quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Carta de Condução



Não me lembro exactamente quando me perguntaram a primeira vez pela Carta de Condução mas sei que ainda não tinha 18 anos. Nessa altura pensava tirar-la o quanto antes mas a verdade é que o tempo foi passando e eu não encontrava motivação para ir às aulas e estudar o aborrecido Código.

E assim foram passando os anos e quando comentava que ainda não tinha a Carta de Condução a indignação era geral. Como se eu fosse um potencial erro de gestação; um desperdício na próspera Sociedade; a personificação do próprio Mal.
Enfim, eu defendia-me e tentava explicar que as minhas prioridades eram outras: estudar, trabalhar,  aprender línguas, viajar, desenvolver outras capacidades etc...Argumentos que não eram de todo convicentes. Era como se, por mais habilidades que eu fosse juntando ao meu CV, havia sempre algo que faltava. Faltava o mais importante: a Carta de Condução. Sem ela, eu estava metida numa grande alhada. Não convencia.

Quando fui morar para Madrid deixei de pensar nisso. Borrifei-me literalmente para a “necessidade” de conduzir um carro. Afinal de contas, estava numa cidade com uma das melhores, mais barata e mais segura rede de Metro. E pelo caminho fui conhecendo gente que pensava como eu. Não só madrileños, como também os meus amigos suecos (+65 anos) que apesar de terem a Carta de Condução deslocaram-se sempre de bicicleta ou de transportes públicos.

No entanto, ultimamente, sobretudo depois da ideia de ir viver para Moçambique começar a ganhar força, pensei “E porque não?”. Inscrevi-me numa escola e, em 6 meses, assisti , em média, a menos de 1 aula por semana. No entanto, a meados de Maio, meti na cabeça que tinha de ser e, com muito esforço comecei a levar a coisa a sério. Ia às aulas, fazia os testes e aprendia um bocadinho mais de Espanhol. Assim, entre as aulas teóricas em Madrid, e as aulas práticas em Toledo consegui tirar a Carta de Condução.

Emoções? Pois bem, sinto que é menos uma coisa na lista de objectivos a cumprir; sinto-me muito orgulhosa pelo mérito de o ter conseguido numa língua estrangeira; sinto que isto não vai mudar a minha maneira de sentir as cidades e os espaços que visito. Para mim os pés serão sempre os melhores mapas das cidades.

Só tenho a lamentar o facto de não ter a Carta de Condução há mais tempo porque sei que esta foi e continua a ser uma reinvidicação feminina. Quando penso que há mulheres, que só pelo facto de ser-lo, não têm o “privilégio” de conduzir, sinto lástima.

Entretanto, espero em casa um igual a este:

 (REINO, que horror, como é possível que no SÉC.XXI ainda vigorem Monarquias?!)